O casamento com crianças já foi adendo da sociedade, se não me engano, inclusive a brasileira, mesmo dentro de uma sociedade dita religiosa, influenciada por práticas católicas pagãs, principalmente as com referências fálicas (conforme Gilberto Freyre). A evolução do tema passou da religiosidade/domínio/escambo de poder para o discernimento e consentimento. Não é do ordenamento ocidental a permissão do casamento com pessoas que não possuam o próprio controle social, nem sejam capazes de praticarem os atos da vida civil apenas por assistência, como ocorre com os adolescentes (tanto que o código civil exige maiores formalidades para validar o"consentimento"do adolescente ao casamento). Chega ser um absurdo tentar relacionar eventuais formas não conservadoras de casamento, como as japonesas, onde já há rituais de casamento com programas de computador, a uma derrocada do consentimento e discernimento. Não há qualquer relação, que não seja a Moral. "Desconfigurar" conceitos é base da concessão de direitos a civis excluídos. Quando a mulher não podia ter o CPF diferente do seu Marido, os argumentos do Hyago poderiam ser facilmente utilizados para fundamentar a égide de que "a base da família, o homem, não pode ser retirada, juridicamente, para abranger suas situações particulares". O divórcio e o reconhecimento do filho bastardo como legítimo também são casos análogos a demonstrar o quanto moral, e não jurídico, muito menos conceitual, é a delimitação dos institutos. Até pouco tempo atrás, mesmo com o monstruoso sigilo dado ao reconhecimento dos filhos fora do casamento, era um absurdo social a conceituação como herdeiro legítimo, tais como os filhos dentro do casamento, do filho bastardo. Dizer qual a função do Direito em questões sociais é de uma pretensão enorme. Em nosso mundo de "convenções", inúmeros preceitos poderiam ser utilizados para dizer que o direito está ou não a favor de determinada política social. O maior exemplo disso são os utilitaristas. A máxima felicidade do indivíduo, limitada ao não prejuízo ao vizinho (aqui está o ponto, onde esses casais prejudicam os não adeptos? as pessoas realmente creem que em pouco tempo a maioria da população brasileira será formada pelo poliamor - sendo razoável pensar nisso, já que o Brasil foi formado com o concubinato?). A dádiva das relações do coletivo Kropotkiniana (por mais que se atende mais ao anarquismo e resolução de conflitos sem poder central) também pode ser utilizada, ainda que de forma forçada, para demonstrar que, a depender da visão, a função essencial do Direito é garantir a sobrevivência da sociedade de acordo com a felicidade de cada um.